​O Limbo Necessário: Como a Decepção Salvou a Minha Fé.

Existem momentos em que estamos em um limbo. Aquele espaço indefinido entre o ciclo que terminou e o novo que ainda não se concretizou. É nesse lugar que estou, refletindo sobre uma trajetória que começou promissora, mas terminou em decepção.

Ao longo dos últimos anos, tive a oportunidade de vivenciar o melhor da fé: pessoas extraordinárias, comprometimento com o Reino, um propósito no ministério e um aprofundamento nos estudos teológicos que consolidou minhas crenças.

Porém, com o passar do tempo, as coisas começaram a desbotar. Notei que o ambiente estava se tornando prejudicial para a minha fé. Observei como a ganância, a arrogância e a falta de humildade para reconhecer falhas começaram a prevalecer.

Encontrei-me enredado em situações complicadas, nas quais aqueles que deveriam servir de exemplo eram, ironicamente, a origem dos conflitos.

Tentei agir como um moderador, mas me arrependi de ser pacifista quando as situações mereciam uma reação mais explosiva.

Ao parafrasear Kafka, percebi que era amado somente enquanto era útil. Quando meus princípios inegociáveis entraram em conflito com as opiniões consideradas “verdade absoluta”, fui deixado de lado e até marginalizado.

A traição foi o ponto final. A percepção de que indivíduos em quem eu confiava mentiram e distorceram fatos para me retratar como uma “ovelha rebelde”, enquanto eu estava apenas buscando verdades dentro do aprisco que deveria ser seguro.

Ali, entendi que o ciclo precisava ser encerrado. Meus princípios não são passíveis de negociação.

O meu último sermão, que tratou sobre integridade, teve mais impacto em mim do que nos ouvintes. Ao mesmo tempo em que foi uma dor, a carta de despedida que escrevi em abril deste ano também foi uma libertação. Um ponto final em um percurso para o qual eu desejava um desfecho totalmente distinto.

E, desse modo, alcancei o limbo.

A interrupção repentina no ministério e a ausência de pertencimento a uma comunidade causaram uma dor profunda. Senti-me sem propósito pela primeira vez na vida, e a incerteza tornou-se uma constante.

No entanto, esses meses de vazio foram essenciais. Usei esse tempo para refletir e, com muita oração, perdoar aqueles que me feriram.

Hoje, não olho para o passado com ressentimento; percebo que a bagagem acumulada deixou de ser um fardo e se transformou em um conjunto de ferramentas. Prefiro preencher a mente com as oportunidades do novo ciclo.

A chance de ser útil outra vez, de fazer parte. Sempre tive medo de ser inútil para o Reino, mas agora percebo que esse tempo foi fundamental para o meu desenvolvimento.

Não me importa que a minha versão da história nunca seja contada. Deus sabe a verdade. E eu sigo em frente, confiando que esta nova etapa será abençoada.


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