Há uma estranha crueldade em conhecer o próprio destino e permanecer imóvel diante dele, como um prisioneiro que possui as chaves de sua cela mas esqueceu como usá-las.
Sabemos quem deveríamos ser: essa certeza queima dentro de nós como uma febre; mas permanecemos cativos de uma versão de nós mesmos que já não nos serve, que talvez nunca nos tenha servido verdadeiramente.
É o mais paradoxal dos sofrimentos: a clareza absoluta sobre o caminho acompanhada da mais completa paralisia dos pés. Mas quando compreendemos que essas chaves não foram colocadas em nossas mãos por acaso, que esta inquietação é um chamado divino sussurrando em nossa alma, descobrimos que não estamos sós nesta cela.
A coragem para abandonar quem fomos não nasce de nossa própria força; ela é um dom concedido àqueles que confiam que há uma mão maior guiando cada passo.
Não precisamos temer o desconhecido quando sabemos que Aquele que nos criou já preparou o caminho. O primeiro passo para frente não é um salto no vazio, mas um ato de fé: usar as chaves sabendo que do outro lado da porta não há trevas, mas a luz de um propósito eterno nos aguardando.
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